A paixão é algo irresistível, mas também
assustador. Eu sei disso. Você sabe disso. E o Tom (Joseph
Gordon-Levitt) sabe muito bem disso. Mesmo assim, graças à precoce
exposição a músicas pop, ele cresceu acreditando que jamais seria feliz a
menos que encontrasse a pessoa certa.
É aí que entra Summer Finn (Zooey
Deschanel), a garota com a qual ele passará 500 dias inesquecíveis (uns
felizes, outros nem tanto).
Esta premissa é o ponto de partida deste filme delicioso e apaixonante. Graças ao talento do diretor Marc Webb, (500) Dias Com Ela (’500 Days of Summer’, 2009) consegue ser um dos melhores do ano e uma das grandes comédias românticas do cinema.
Esqueça essas coisas sem alma feitas por Jennifer Aniston, Ashton Kutcher e cia. (500) Dias Com Ela
pega todos os clichês do gênero e os recria com curiosa originalidade,
abusando de ferramentas metalinguísticas e referências à nossa cultura e
àquilo que consumimos sem culpa (séries de tevê, filmes, músicas). É
divertidíssima, por exemplo, a cena em que Tom se dá conta de que Summer
é mesmo diferente, quando, no elevador, ela revela que ama a banda The
Smiths.
E, se em Juno, o roteiro era
extraordinário por colocar palavras ácidas e inteligentes na boca de uma
adolescente, espere até ouvir os diálogos espertinhos de (500) Dias Com Ela.
No filme de Marc Webb, os personagens falam coisas que eles deveriam
estar mesmo falando, mas de forma muito mais divertida e descolada
(odeio essa palavra).
Do início ao fim, Webb busca romper com o
comum usando recursos outrora recorrentes (tela dividida, narração,
flashback), mas que aqui, de tão bem realizados, fazem todo o sentido
para compreendermos as personagens em tela. A sequência em que Tom vai à
festa na casa de Summer e vemos, de um lado sua Expectativa e do outro a
Realidade, enquanto a música de Regina Spektor diz “he never ever saw
it coming at all”, é de uma fodelância absurda (tradução: genial). Essa
passagem, inclusive, me deixou emocionadíssimo, tamanha sua
simplicidade.
E o diretor brinca o tempo todo com a
metalinguagem, às vezes de forma mais clara, como a sequência do musical
ou quando Tom se vê refletido na tela do cinema, mas principalmente
disfarçada de conteúdo: (500) Dias Com Ela é uma história de
amor em que seu personagem principal, seu herói, culpa todas as
histórias de amor criadas, seja no cinema, seja na música, por fazer as
pessoas se frustrarem ao desejar algo que, aparentemente, não existe na
vida real: a famigerada alma gêmea. É curiosíssimo como o filme tenta
subverter (de mentirinha, claro) tal convenção, mesmo que por fim acabe
se rendendo a ela.
Apesar disso tudo, (500) Dias Com Ela é mesmo um filme de personagens. Assim como o competente Apenas o Fim,
é na dinâmica entre os protagonistas que a produção brilha. Joseph
Gordon-Levitt e Zooey Deschanel finalmente encontraram os papéis de suas
vidas.
Carismático, Gordon-Levitt pode até
exagerar um pouquinho nas expressões (quando ele está depressivo,
principalmente), mas seu olhar de apaixonado é tão sincero e genuíno,
que basta. Já Zooey Deschanel… puta merda, juro que em muitos momentos
desisti de ler a legenda só pra ficar olhando em seus olhos. Sabendo que
a atriz não é lá muito talentosa (vide Fim dos Tempos),
Marc Webb soube extrair o melhor da moça e a deixou ainda mais
encantadora. Repare, por exemplo, como a personagem veste basicamente
azul; isso a torna mais serena e fascinante.
Os fatores que me incomodam no filme são o
excesso de vai e vens e os amigos do Tom, que servem como um
desnecessário alívio cômico. Especialmente a garotinha a quem ele pede
conselhos; qual o sentido da personagem ser uma criança? Para mostrar
que ele é mesmo um cara inseguro e que seus amigos não entendem do amor
e, por isso, não prestam para dar conselhos? A intenção é até que boa,
mas para mim não rolou.
Mas isso de nada importa. Pois com uma
trilha sensacional, roteiro afiado, atores em sintonia e um diretor com
total domínio sobre sua obra, (500) Dias Com Ela é um filmaço.
Veja, reveja, ame, odeie, sinta.
Nota: 9,0
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